
"E AGORA, 'VEIO'? Só tem espectador, não tem mais palhaço."
A frase, dita com gíria e entre lágrimas por um jovem no enterro de Glauco, no sá¬bado, em São Paulo, resumia a prin¬cipal característica do cartunista e quadrinista, que também era com¬positor e líder religioso, assassinado aos 53 anos junto de seu filho, Raoni, de 25, na madrugada de sexta-feira, em Osasco (SP).
Era o Glauco crítico dos costumes, libertário, algo escatológico e com uma sexualidade evidente e com¬pulsiva, no melhor estilo dos cômi¬cos populares. Mas seu humor via o mundo em grande angular, e os cartuns políticos da página dois do jornal, de opinião, eram igualmente importantes e inspirados.
Na sequência diária surgiram Geraldão, o edipiano dos excessos, Dona Marta, a predadora sexual, o drogado Doy Jorge, o Casal Neu-ras, que discutia a relação e acabou virando quadro do revolucionário humorístico "TV Pirata", o menor abandonado Faquinha, absorvido pelo tráfico, e o visionário chinfrim Zé do Apocalipse, a maioria inspira¬da nos personagens da vida noturna paulistana dos anos 80.


Dos militares aos colloridos, dos tucanos aos petistas, todos foram seu alvo. Inclusive o presidente Luiz Iná¬cio Lula da Silva, que logo após ser
eleito gozava de certa lua de mel com os cartunistas, semelhante à que Barack Obama teria depois com os humoristas norte-americanos. Pois Glauco foi dos primeiros a romper o namoro, resgatando o saudável prin¬cípio de que não há humor a favor
Como os muitos braços e pernas de Geraldão, um de seus persona¬gens mais conhecidos e com o qual era mais identificado, ele tinha vá¬rias outras atividades. Criou a pró¬pria igreja, Céu de Maria, ligada ao Santo Daime, religião à qual se con¬verteu também para deixar de usar drogas. Na versão líder religioso, era ainda compositor e músico. Fez mais de cem canções para os rituais, que acompanhava tocando acordeão.
O Geraldinho foi criado especialmente para a Folhinha, é uma versão do Geraldão durante a infância. O garoto é viciado em refrigerante e sorvete.
Importuna todo mundo e deixa a mãe louca atrás dele em casa.
Cachorrão é seu melhor parceiro, ao lado de um gato felpudo.

O seu trabalho sempre esteve diretamente relacionado a sociedade e ao cenário político da atualidade, sempre se apropriava de acontecimentos marcantes para fazer críticas de forma as vezes sutil outras vezes diretamente, mas sempre com bastante humor e muita criatividade.
Surge então a necessidade de buscar aquele casal moderno, nascido e crescido na cidade grande, cheio de manias e “necessidades” que a vida nos dias de hoje nos proporciona.

Inspirada no primeiro casamento de Glauco, a tira, de 1984, é uma sátira aos casais modernos: uma mulher que não tolera ordens e um homem que posa de liberal, mas morre de ciúmes.
Nas viagens à praia, é comum aparecer o Bichão do Ciúme, uma praga que assombra o marido quando a mulher se assanha.

A série dos anos 1980 é um marco dos quadrinhos, publicada a partir de 1991 no Folhateen. Laerte, Angeli e Glauco estão por trás dos bandoleiros mexicanos que aprontam num cenário psicodélico. Adão Iturrusgarai também colaborou com a tira.
O lado Mistico do altor é revelado nesse personagem.
O profeta tem uma camada de ozônio propria e vende pasteizinhos antropofagos. Anda pelas ruas vociferando idéias malucas, como a previsão de uma chuva torrendial de privadas.